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Requisitos nutricionais do eucalipto

Ana Quintela, Célia Fernandes e Sérgio Fabres 1

1 RAIZ - Instituto de Investigação da Florestal e Papel, Quinta de S. Francisco, 3800-783 Aveiro, Portugal

  1. Aspetos da nutrição do eucalipto
  2. Avaliação do estado nutricional

Sabia que as exigências nutricionais variam com a fase do ciclo de crescimento do eucalipto? E sabe como avaliar o estado nutricional do seu povoamento?

Conhecer a fertilidade do solo e as necessidades nutricionais das plantações de eucalipto ao longo do seu ciclo de crescimento é um aspeto determinante para se poder compreender e, assim, promover a sua produtividade.

  1. Aspetos da nutrição do eucalipto

    As necessidades nutricionais do eucalipto referem-se às quantidades de nutrientes que a cultura precisa para que se atinja uma produção próxima da máxima para uma dada condição edafoclimática. Estas necessidades podem variar entre espécies, ou mesmo entre genótipos de uma mesma espécie, como resultado das exigências intrínsecas de determinado material e da sua interação com o meio ambiente, podendo também variar com a idade. Estão também ligadas à acumulação de nutrientes na biomassa de um povoamento de eucalipto que depende do total da biomassa produzida e do teor de nutrientes nesta biomassa.

    Povoamento com 7,5 anos

    Num ecossistema florestal, a dinâmica de suprimento de nutrientes para as plantas envolve processos de transferência interna e externa ao ecossistema, constituindo fatores primordiais para a produção vegetal. As transferências internas consistem nos fluxos de nutrientes entre os diferentes compartimentos do ecossistema e incluem os vários componentes da biomassa (folhas, ramos, madeira, casca e raízes), a manta orgânica (detritos vegetais acumulados na superfície do solo), a matéria orgânica do solo, a solução do solo e a fração mineral do solo. Estes fluxos de transferência interna são governados por processos como a queda de folhada, mineralização e imobilização, capacidade de troca catiónica e adsorção aniónica do solo, disponibilidade e absorção de nutrientes pelas plantas. Os processos de transferência externa são representados pelas entradas de elementos químicos via precipitação atmosférica (deposição seca ou húmida), aplicação de fertilizantes e meteorização de minerais primários do solo, e pelas saídas via exploração florestal (remoção da biomassa), volatilização, perdas eólicas de elementos minerais (principalmente como consequência de queimadas) e perdas por erosão e lixiviação. 

    Entre 90 % a 95 % da biomassa seca é constituída por carbono (C), hidrogénio (H) e oxigénio (O) provenientes da contribuição da atmosfera e da água. Os restantes 5 % a 10 % correspondem aos elementos minerais absorvidos do solo tais como azoto (N), potássio (K), fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cobre (Cu), ferro (Fe), zinco (Zn), manganês (Mn), molibdénio (Mo), níquel (Ni), entre outros. Estes nutrientes desempenham funções específicas na nutrição vegetal, nomeadamente a nível estrutural, metabólico e regulador. Algumas destas funções são apresentadas de forma resumida no esquema que se segue.

    Ao longo de um ciclo de crescimento do eucalipto vai havendo maior volume de solo explorado pelas raízes, tornam-se cada vez mais eficazes os mecanismos de reciclagem biogeoquímica, isto é, os nutrientes móveis (N, P, K e Mg) são redistribuídos no interior da planta – reciclagem bioquímica – e começa a ocorrer a queda e a deposição da folhada, com consequente mineralização e reabsorção de nutrientes – reciclagem biogeoquímica – resultando numa menor “exigência” sobre a reserva de nutrientes de origem mineral. Paralelamente poderá também haver alguma disponibilidade de nutrientes a partir de formas químicas inicialmente indisponíveis no solo, principalmente devido à meteorização de minerais primários, como feldspatos e micas por exemplo. O balanço geoquímico de nutrientes para povoamentos de eucalipto em Portugal indicia que a sustentabilidade da produtividade florestal, ao longo de sucessivas rotações, é afetada pela seguinte ordem de limitação nutricional: fósforo (P) ≥ azoto (N) > potássio (K) > cálcio (Ca) > magnésio (Mg), caso não fossem tomadas as medidas adequadas de gestão da fertilidade do solo (via adubação).

    As exigências nutricionais variam com a fase do ciclo de crescimento do eucalipto e, em consequência, diferentes concentrações no solo são requeridas para a manutenção da taxa ótima de crescimento em cada fase: fósforo (P) e cálcio (Ca) são muito exigidos para o arranque e crescimento inicial das plantas, para além de serem dois nutrientes importantes para a formação de raízes abundantes e vigorosas, que vão permitir por sua vez potenciar a absorção dos restantes nutrientes. Azoto (N), potássio (K) e boro (B) são necessários em pequenas quantidades na fase inicial de crescimento e vão tornando-se cada vez mais importantes na medida em que as plantas se desenvolvem, havendo uma necessidade máxima até os 4 ou 5 anos de idade das plantas. Depois desta fase do povoamento, diminui a necessidade relativa de nutrientes uma vez que há uma eficiente mobilização interna dos mesmos e uma maior alocação de fotoassimilados para o tronco (madeira e casca).

  2. Avaliação do estado nutricional

    A análise foliar é uma técnica de diagnóstico particularmente útil para avaliar o estado nutricional dos povoamentos e, assim, auxiliar a tomada de decisão sobre a necessidade, formulação, momento e dose de fertilizantes a aplicar. Para além da avaliação visual, que permite apenas uma apreciação qualitativa do estado da planta, a análise química das folhas, recorrendo a técnicas laboratoriais, permite determinar a concentração de nutrientes no tecido vegetal e compará-la com valores de referência.

    1. Como devo proceder para recolher a amostra foliar?

      • Amostrar pelo menos 20 árvores (por condição edafoclimática, material genético e idade) colhendo um mínimo de 60 folhas por amostra;
      • A amostragem de folhas deve ser efetuada preferencialmente no final da primavera/início do verão, após o desenvolvimento das primeiras folhas do ano (folhas completas);
      • Colher as folhas da parte exterior do terço médio da copa, no 2º ou 3º par de folhas (folhas recém formadas mas completamente desenvolvidas), nos quatro quadrantes da árvore, de acordo com a figura seguinte. As folhas devem estar limpas de terra, isentas de necroses, doenças e pragas;
      • As amostras devem ser devidamente identificadas (por exemplo: nome da propriedade/estrato, tipo de material vegetal, idade do povoamento e data) e deixadas a secar em saco aberto para que não se deteriorem. Quando secas, deverão ser enviadas para análise em laboratório acreditado;
      • Pacote analítico sugerido: azoto (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), ferro (Fe), manganês (Mn), cobre (Cu), boro (B) e zinco (Zn);
      • Material necessário: sacos de papel ou de plástico furados, marcador ou etiquetas autocolantes e tesoura de cabo comprido, se necessário.

Saiba quais os valores de referência foliares para um povoamentos com nutrição adequada.

Sobre os autores:
Ana Quintela – PhD, Investigadora e gestora de projetos de I&D em silvicultura e ambiente da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
Célia Fernandes - Investigadora em silvicultura e ambiente da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
Sérgio Fabres - Coordenador de I&D em Silvicultura da Direção de Investigação e Consultoria Florestal

RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel

Contacto:
ana.quintela@thenavigatorcompany.com
celia.fernandes@thenavigatorcompany.com
sergio.fabres@thenavigatorcompany.com

Como citar:
Quintela, A., Fernandes C., Fabres, S. (2019) Requisitos nutricionais do eucalipto.
RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel. Disponível em: www.e-globulus.pt.

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