O conceito de serviços de ecossistema baseia-se na ideia de que os seres humanos beneficiam da natureza e dos variados serviços que esta presta. A vida humana é sustentada pelos bens e recursos que a natureza nos providencia, como água, ar puro e alimentos. Isto é uma verdade antiga e consensual mas só recentemente se começou a levantar a importante questão sobre como valorizar estes benefícios. Como valorizar o papel da floresta na reciclagem de nutrientes? ou o contributo na formação de solos, que ocorrem naturalmente e sem intervenção humana e que em Portugal são imaturos e pouco desenvolvidos? Ou ao serviço de regulação dos regimes pluviométricos e de libertação de oxigénio que as árvores nos prestam?
um serviço ecossistemático deve ser valorizado sempre que trouxer um benefício real ao ser humano
A exploração da natureza e dos ecossistemas que a compõem encontra-se na base do bem-estar humano, do comércio e da nossa economia. Os recursos naturais foram durante muito tempo tidos como ilimitados e garantidos. Isto leva a uma desvalorização da sua importância, apesar do ser humano não ter a capacidade de substituir os serviços prestados pela natureza (Daily, 1997). Hoje vemos como a degradação continua e a nível global dos ecossistemas têm vindo a reduzir a sua capacidade de assegurar os mesmos serviços (European Commission, Directorate-General for Environment, 2015).
A própria degradação antropogénica dos ecossistemas impulsionou bastante o reconhecimento da importância destes serviços. A compreensão do tempo que estes demoram a recuperar, ou em alguns casos a sua incapacidade de recuperação e consequente perda das suas funções, fizeram-nos perceber a necessidade da sua conservação. Para além disso, os esforços de arranjar tecnologias que substituam estes serviços também proporcionaram a sua valorização (Daily, 1997).
Em 1999, o Millennium Ecosystem Assessment (MEA) foi a primeira iniciativa global desenvolvida para avaliar o impacto que alterações aos ecossistemas podiam ter no bem-estar humano e nos serviços de ecossistemas identificados (MEA, 2005). O objetivo do MEA era estudar as consequências das alterações dos ecossistemas e conceber e planear medidas para a conservação e uso sustentável dos recursos, incluindo ao nível de cada país avaliado, para suportar decisões políticas tomadas na altura (florestas.pt). Para tal, os serviços providenciados pelos ecossistemas foram classificados em 4 grupos (MEA, 2005; Daily, 1997):
SERVIÇOS DE SUPORTE: serviços base, necessários à prestação das outras categorias de serviços (Fig. 1). Neste grupo estão incluídos por exemplo a reciclagem de nutrientes, a formação de solo, o sequestro de carbono, a decomposição de matéria orgânica, a fotossíntese das plantas, etc.
SERVIÇOS DE APROVISIONAMENTO: são os bens que o ser humano pode obter dos ecossistemas (Fig. 2). Exemplos: alimentos, madeira, compostos medicinais precursores de produtos farmacêuticos, fibras naturais e biomassa.
SERVIÇOS DE REGULAÇÃO: benefícios que advêm da regulação dos ecossistemas (Fig. 3). Por exemplo, serviços de purificação da água e do ar, controlo de cheias, polinização e dispersão de sementes, biodiversidade, entre outros.
SERVIÇOS CULTURAIS: benefícios obtidos através de enriquecimento espiritual, desenvolvimento cognitivo, atividades recreativas e experiências estéticas ligadas a sistemas naturais. Nesta categoria estão incluídos o turismo, a educação ambiental e o lazer (Fig. 4).
Estas definições e categorização são debatidas e outras divisões já foram propostas, mas a ideia por detrás mantém-se: um serviço ecossistemático deve ser valorizado sempre que trouxer um benefício real ao ser humano. A maneira mais comum de quantificar tais serviços é através de valorização económica, pondo um preço nos benefícios obtidos, cujo é aferido através de metodologias estipuladas à escala da União Europeia (MEA, 2005).
Sobre o autor:
Técnica Superior de Investigação da Direção de Investigação e Consultoria Florestal,
RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel
Contacto: ines.rosa@thenavigatorcompany.com
Como citar:
Chaby Rosa, I. (2022) Serviços de ecossistemas. Dossier e-globulus.
RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel. Disponível em: www.e-globulus.pt.
Referências bibliográficas
[1] Cabral, M. J., Almeida, J., Almeida, P. R., Dellinger, T., Ferrand de Almeida, N., Oliveira, M. E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L. & Santos-Reis, M. (2005). Livro vermelho dos vertebrados de Portugal.
[2] Daily, G. C. (1997). Introduction: what are ecosystem services. Nature’s services: Societal dependence on natural ecosystems, 1
[3] European Commission, Directorate-General for Environment, (2015). Ecosystem services and biodiversity, Publications Office. https://data.europa.eu/doi/10.2779/57695
[4] Millennium Ecosystem Assessment, 2005. Ecosystems and Human Well-being: Synthesis. Island Press, Washington, DC.
[5] O que é o Millennium Ecosystem Assessment - MEA? (2021, January 14). Florestas.Pt. Retrieved August 24, 2022, from https://florestas.pt/saiba-mais/o-que-e-o-millennium-ecosystem-assessment-mea/
[6] O que são os serviços do ecossistema? (2021, January 14). Florestas.Pt. Retrieved August 29, 2022, from https://florestas.pt/saiba-mais/o-que-sao-os-servicos-do-ecossistema/