Conhecendo o tipo de solo da área a florestar, poderá ter logo à partida uma noção do seu potencial produtivo
O solo é um importante recurso natural para a gestão sustentável das plantações florestais, incluindo as de eucalipto. Sendo este um recurso natural não renovável e o substrato para o crescimento das plantas e a produção vegetal, a manutenção da sua qualidade ao longo dos ciclos de exploração florestal é um componente chave da sustentabilidade de um ecossistema de produção florestal.
Principais solos florestais de Portugal
A tipologia de um solo reflete um conjunto de características próprias, como sejam físicas (e.g. textura, pedregosidade), químicas (e.g. teor de nutrientes) e morfológicas (e.g. tipo e espessura de horizontes), que vão ter influência decisiva na capacidade produtiva do mesmo. Assim, diferentes tipos de solo terão diferentes potenciais produtivos pelo que, conhecendo o tipo de solo da área a florestar, poderá ter-se logo à partida uma noção do seu potencial produtivo bem como das suas limitações e, assim, implementar as práticas silvícolas mais adequadas.
A classificação do solo consiste em agrupar diferentes tipos de solo em função das suas semelhanças permitindo identificá-los e catalogá-los utilizando uma nomenclatura nacional ou universal como por exemplo o World Reference Base for Soils Resources (WRB/FAO). Considerando o nível categórico mais elevado desta classificação, em Portugal as plantações de eucalipto encontram-se sobretudo em Leptosols, Regosols, Cambisols, Umbrisols, Arenosols e Podzols.- Arenosols
- Solos pouco desenvolvidos, com génese em materiais com textura franco-arenosa ou mais grosseira, com exceção de sedimentos aluviais ou coluviais recentes, com pelo menos 100 cm de profundidade ou, se sobre horizonte plíntico, petroplíntico ou sálico, entre 50 cm e 100 cm. Normalmente estes solos são desenvolvidos a partir de sedimentos arenosos antigos não consolidados e podem ser encontrados principalmente nas regiões do Vale do Tejo e do Sado.
- Cambisols
- Solos relativamente pouco desenvolvidos, com profundidade entre 50 cm e 100 cm, com um horizonte B incipiente ou câmbico, caracterizado por um grau de desenvolvimento baixo e presença de minerais primários facilmente meteorizáveis, normalmente de textura franco-arenosa ou mais fina. Podem ser encontrados um pouco por todo o país.
- Leptosols
- Solos muito pouco desenvolvidos, com horizonte A limitado a 25 cm de profundidade, assente diretamente sobre rocha ou material com elevado conteúdo de carbonato de cálcio (mais do que 40 %). Inclui também os solos contendo menos de 10 % de terra fina (∅< 2 mm), independentemente da sua profundidade. Podem ser encontrados um pouco por todo o país.
- Podzols
- Solos com horizonte espódico (horizonte B), camada subsuperficial de cor escura formada pela iluviação de substâncias amorfas ricas em alumínio e matéria orgânica, com ou sem ferro. De natureza sedimentar, os Podzols normalmente refletem a evolução dos Arenosols sob determinadas condições climáticas e topográficas, razão pela qual em Portugal se encontram frequentemente associados aos Arenosols. Nestes solos que podem atingir profundidades de até 200 cm, o horizonte B está subjacente a horizonte álbico (esbranquiçado), hístico (orgânico), úmbrico (horizonte mineral rico em matéria orgânica e baixa saturação de bases) ou ócrico (horizonte com aproximadamente 10 cm e pobre em matéria orgânica).
- Regosols
- Solos pouco desenvolvidos sem horizonte B com uma profundidade superior a 25 cm. Normalmente, apresentam um rególito bastante visível (material mineral superficial não consolidado) resultante da meteorização do material de origem (arenização ou argilização), mas ainda sem edafização. Podem ser encontrados um pouco por todo o país.
- Umbrisols
- Solos mais desenvolvidos que os tipos de solo referidos anteriormente. Apresentam um horizonte úmbrico de cor escura com pelo menos 25 cm de profundidade rico em matéria orgância e com saturação de bases inferior a 50 %. Embora tenham um elevado potencial de produtividade florestal, a sua expressão em Portugal é muito limitada estando geralmente circunscritos a algumas zonas do litoral Norte.
Fertilidade do solo e sua avaliação
São características do solo particularmente relevantes para a produtividade do eucalipto a profundidade efetiva, a pedregosidade, a textura, a densidade aparente (adensamento/compactação), o tipo de horizonte A e a fertilidade do solo.
A avaliação da fertilidade do solo assume especial importância para o cultivo de eucalipto, pois de modo geral os solos florestais portugueses apresentam níveis baixos de alguns nutrientes, principalmente fósforo (P) e azoto (N).A fertilidade do solo pode ser definida como a capacidade que este tem de ceder nutrientes às plantas, podendo ser avaliada de forma direta via análise de amostras de solo ou de forma indireta via análise foliar.
De entre os parâmetros da fertilidade do solo, destacam-se a matéria orgânica (principalmente como fonte de azoto (N), enxofre (S), fósforo (P) e boro (B), efeito sobre a capacidade de troca catiónica e capacidade de retenção de água); saturação de bases do complexo de troca; formas químicas de fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) prontamente disponíveis a médio prazo pela meteorização de minerais primários, dependentes fundamentalmente da mineralogia do solo.
Embora as necessidades de nutrientes das espécies florestais sejam comparativamente menores do que as das culturas agrícolas, a prática de fertilização mineral em plantações florestais tem frequentemente grande relevância porque em regra os solos florestais têm baixa fertilidade natural.
As práticas de fertilização, para além de permitirem corrigir o défice nutricional existente em cada caso, melhoram também o balanço geoquímico de nutrientes nos ecossistemas de produção florestal, contribuindo para melhorar a qualidade do ecossistema porque corrigem a fertilidade do solo e repõem a quantidade de nutrientes extraída do solo via exploração florestal e promovem desenvolvimento da cobertura vegetal do terreno, contribuindo assim para reduzir os riscos de erosão e aumentar a capacidade de infiltração da água, para além de aumentar o teor de matéria orgânica do solo, via aumento da produção de biomassa.
A avaliação da fertilidade do solo permite inferir a capacidade do solo disponibilizar nutrientes para as plantas, possibilitando assim fazer um planeamento mais preciso das intervenções de fertilização a serem efetuadas no povoamento. Deste modo, é possível assegurar a máxima expressão do potencial de produtividade florestal para cada local e, ao mesmo tempo, garantir a sua sustentabilidade. A análise do solo é uma importante ferramenta de diagnóstico da fertilidade do solo, uma vez que permite avaliar a quantidade extraível de um nutriente que mais se relaciona com a fração passível de ser absorvida pela planta ao longo do seu ciclo de vida.
Avaliação da fertilidade do solo
A avaliação da fertilidade do solo permite inferir a capacidade do solo disponibilizar nutrientes para as plantas, possibilitando assim fazer um planeamento mais preciso das intervenções de fertilização a serem efetuadas no povoamento. Deste modo, é possível assegurar a máxima expressão do potencial de produtividade florestal para cada local e, ao mesmo tempo, garantir a sua sustentabilidade. A análise do solo é uma importante ferramenta de diagnóstico da fertilidade do solo, uma vez que permite avaliar a quantidade extraível de um nutriente que mais se relaciona com a fração passível de ser absorvida pela planta ao longo do seu ciclo de vida.
A técnica habitualmente utilizada para a avaliação da fertilidade do solo é a análise química de amostras de solo. A amostragem é uma etapa crítica em todo o processo de análise, uma vez que a amostra do solo deve ser representativa da área que se pretende avaliar e efetuada de forma cuidadosa.
Como fazer a amostragem de solo?
- A profundidade de amostragem deve abranger os 40 cm superficiais, exceto quando a profundidade efetiva do solo for inferior;
- Estratificar a propriedade em função da sua ocupação, topografia do terreno e características físicas do solo. Esta estratificação é necessária apenas no caso de propriedades com condições contrastantes nestes critérios;
- Em cada estrato, colher uma amostra composta por 15 subamostras de solo distribuídas aleatoriamente no estrato, com recurso à enxada ou sonda removendo previamente a camada orgânica superficial não decomposta;
- Retirar uma porção da amostra composta de solo devidamente homogeneizada por estrato (aproximadamente 500 g);
- A(s) amostra(s) deve(m) ser devidamente identificada(s) (nome da propriedade/estrato, profundidade média de amostragem e data, por exemplo) e enviada(s) para análise em laboratório acreditado;
- Pacote analítico sugerido: pH (em água), matéria orgânica, fósforo (P), complexo de troca (cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K) e sódio (Na)) e capacidade de troca catiónica, micronutrientes (ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), boro (B));
- Material utilizado na amostragem: sonda de meia-cana ou enxada, maço, espátula, balde ou saco de plástico e marcador ou etiquetas autocolantes.
“O solo e a água são os mais importantes recursos biofísicos para a gestão sustentável das plantações florestais. A manutenção da sua qualidade ao longo dos ciclos de exploração florestal é um componente chave da sustentabilidade” (Gonçalves et al. 2014).
Saiba quais os valores de referência para a fertilidade do solo em povoamentos de eucalipto.
Sobre os autores:
Ana Quintela – PhD, Investigadora e gestora de projetos de I&D em silvicultura e ambiente da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
Célia Fernandes - Investigadora em silvicultura e ambiente da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
Sérgio Fabres - Coordenador de I&D em Silvicultura da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel
Contacto:
ana.quintela@thenavigatorcompany.com
celia.fernandes@thenavigatorcompany.com
sergio.fabres@thenavigatorcompany.com
Como citar:
Quintela, A., Fernandes C., Fabres, S. (2019) Conhece a tipologia de solo da sua propriedade?
RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel. Disponível em: www.e-globulus.pt.