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Atividades para uma gestão silvícola em primeira rotação bem-sucedida

Ana Quintela, Célia Fernandes e Sérgio Fabres 1

1 RAIZ - Instituto de Investigação da Florestal e Papel, Quinta de S. Francisco, 3800-783 Aveiro, Portugal

  1. Caracterização edafoclimática da propriedade
  2. Material genético
  3. Preparação do terreno
  4. Estabelecimento do compasso de plantação
  5. Plantação e qualidade da planta
  6. Adubação
  7. Controlo da vegetação espontânea
  8. Monitorização da ocorrência de doenças e ataque de pragas



A produtividade florestal depende da qualidade do local que resulta da interação do clima com o solo e com outros elementos da paisagem, fatores não controláveis, e das práticas de gestão aplicadas. A gestão de um povoamento de eucalipto em primeira rotação, considerando um ciclo de crescimento de 10 a 12 anos, deverá considerar:

Caraterização do terreno 1. Caracterização edafoclimática da propriedade

Consiste na estratificação da propriedade em unidades menores, representadas por zonas homogéneas de aptidão florestal, a partir da caracterização do solo e do clima, base para um bom projeto florestal. Este conhecimento permite apoiar o planeamento das práticas silvícolas a serem implementadas no terreno em cada caso, para além de permitir identificar os riscos bióticos (Gonipterus, Phoracantha e Teratosphaeria) e abióticos (encharcamento, tombamento e geada inerentes às condições de solo e clima de cada local), que poderão condicionar a viabilidade do empreendimento florestal.

Material genético 2. Material genético

Um clone selecionado e bem adaptado às condições edafoclimáticas de uma dada propriedade será sempre mais produtivo que uma planta de origem seminal, porque numa plantação clonal todas as árvores são geneticamente idênticas, capitalizando integralmente os ganhos propiciados pela seleção de árvores superiores. O resultado prático é uma floresta mais uniforme e produtiva, com ganhos em toda a cadeia de produção florestal inclusive na atividade de exploração do povoamento (corte, rechega e transporte).

Preparação do terreno 3. Preparação do terreno

Na instalação de um povoamento de eucalipto, independentemente do tipo de florestação que se vier a fazer (arborização, rearborização ou reconversão), há frequentemente a necessidade de gerir os resíduos florestais e controlar a vegetação espontânea e/ou a rebentação de toiças, de modo a facilitar as operações subsequentes e ao mesmo tempo minimizar a competição por luz, água e nutrientes entre as jovens plantas e a vegetação espontânea. A preparação do terreno/mobilização do solo representa mais de 50% dos custos de uma rearborização florestal, devendo por isso mesmo ser definida consoante cada caso, principalmente em função do tipo de solo, declive do terreno e uso anterior.

A mobilização do solo tem por objetivo promover a sua descompactação, quando necessária, diminuindo a resistência mecânica do solo à penetração das raízes e melhorando a capacidade de infiltração e armazenamento da água no solo.

Compasso da planta 4. Estabelecimento do compasso da plantação

O compasso de plantação é estabelecido em função do uso que se pretende dar à madeira produzida, do declive do terreno e da qualidade do site. Para fins de produção de rolaria para pasta e papel, a distância entre linhas de plantação não deve ser superior a 4 metros e a distância entre plantas na linha não deve ser inferior a 1,7 metros, como regra geral. Nos terraços, a distância entre linhas é frequentemente superior a 4 metros devido à limitação imposta pelo declive do terreno. Assim, a densidade de plantas aconselhada para produção de rolaria de madeira de eucalipto vai variar entre 1000 e 1600 plantas por hectare, consoante a qualidade do site e o declive do terreno.

Qualidade da planta 5. Plantação e qualidade da planta

A qualidade da planta (clonal ou seminal) é fundamental para o sucesso da plantação, uma vez que pode condicionar o crescimento inicial, a sobrevivência e a uniformidade do povoamento. As plantas devem apresentar-se vigorosas, sem sintomas agudos de deficiência nutricional, ausência de pragas e doenças e atempadas (rustificadas). As raízes devem estar ativas (brancas), sem enrolamento no tubete e o substrato/torrão ser poroso e firme. Na altura da plantação, as plantas devem ter idade entre 3 e 6 meses e uma altura média de 25 a 50 cm. A colocação da planta no terreno deve ser feita sempre com o torrão na vertical, e de forma a não deformá-lo. Em Portugal, a época de plantação de eucalipto mais adequada é na primavera ou no outono, estações do ano em que há maior disponibilidade de água no solo e temperaturas mais amenas.

Adubação 6. Adubação

A adubação é uma prática silvícola simples e eficaz, que consiste na aplicação de fertilizantes minerais e/ou orgânicos que contêm nutrientes essenciais para as plantas, e que o solo muitas vezes não possui em quantidades suficientes para o seu crescimento e produção ótimos. A adubação permite assim corrigir a fertilidade do solo para que as plantas possam dele retirar os nutrientes necessários para o seu ciclo de vida. A fertilidade do solo pode ser conceituada como a capacidade de o solo fornecer nutrientes para as plantas. Assim, para uma correta recomendação de adubação, é necessário conhecer previamente a fertilidade do solo mediante a análise química de amostras do solo por zona homogénea da propriedade.

Quanto, quando e como adubar?

A necessidade de nutrientes pelas plantas de eucalipto depende fundamentalmente de dois fatores: produtividade esperada e nível de fertilidade do solo. As exigências nutricionais também variam com a fase do ciclo de crescimento das plantas. Fósforo (P) e cálcio (Ca) são nutrientes essenciais para o arranque e crescimento inicial das plantas e importantes para a formação de raízes abundantes e vigorosas, que vão permitir por sua vez potenciar a absorção dos restantes nutrientes. Azoto (N) e potássio (K) são necessários em pequenas quantidades na fase inicial de crescimento e vão tornando-se cada vez mais importantes na medida em que as plantas se desenvolvem, havendo uma necessidade máxima por ocasião do maior desenvolvimento das copas das árvores, quando as plantas têm quatro a cinco anos de idade.

Adubação de instalação

Aplicação localizada na vala ou cova de plantação de um fertilizante N-P-K (azoto-fósforo-potássio) com elevada concentração de P e baixa concentração de NK, desejavelmente com características de libertação lenta.

Adubação de manutenção

Aplicação de um fertilizante NPK, na projeção da copa ou ao longo das linhas de plantação, com elevada concentração de NK e baixa concentração de P. Esta prática normalmente é realizada entre um e quatro anos de idade do eucaliptal, podendo ser parcelada em dois ou mais momentos.

Controlo de vegetação espontânea 7. Controlo da vegetação espontânea

A vegetação espontânea, sendo um indicador importante da biodiversidade, exerce um papel fundamental para o equilíbrio ecológico do ecossistema, contribuindo neste sentido para a saúde e vitalidade do povoamento, uma vez que poderá neutralizar ou minimizar potenciais danos causados por pragas e doenças. Num qualquer ecossistema (natural, semi-natural ou antropomorfizado), a diversidade biológica é função não só do número de espécies presentes (riqueza específica), mas também do modo como os indivíduos se distribuem por essas espécies (equitabilidade), constituindo uma medida da estabilidade e riqueza relativa da comunidade biótica presente na propriedade ou numa dada unidade de gestão. No entanto, na fase inicial de crescimento, a vegetação espontânea concorre com as plantas de eucalipto em água, luz e nutrientes, podendo comprometer o sucesso da plantação. Assim, para além do controlo da vegetação espontânea na fase inicial de preparação do terreno, serão necessárias durante o ciclo de crescimento do eucalipto pelo menos uma ou duas intervenções de controlo da vegetação, recorrendo a meios manuais, mecânicos ou químicos. Exemplos de vegetação espontânea mais comuns:

Matos herbáceos

Cobertura da área com espécies herbáceas, como exemplo gramíneas e fetos, que se desenvolvem de forma espontânea no povoamento.

Matos arbustivos e arbóreos

Cobertura da área com espécies arbustivas e arbóreas, como exemplo urzes, silvas, giestas, tojos, estevas, carrascais, que se desenvolvem de forma espontânea no povoamento.

Plantas invasoras (ex.: acácias)

Cobertura da área com acácias (plantas invasoras) que se desenvolve de forma espontânea no povoamento e pode ocupar o território de uma forma excessiva.

Monitorização da ocorrência de doenças e ataque de pragas 8. Monitorização da ocorrência de doenças e ataque de pragas

Para promover um bom estado fitossanitário da floresta e assim assegurar uma taxa de crescimento compatível com o potencial do site, é necessário monitorizar a ocorrência de pragas e doenças. Caso detetadas, deve-se procurar ajuda especializada para promover-se a adoção de medidas de controlo adequadas. A monitorização de riscos bióticos das plantações florestais e métodos de controlo integrado de pragas e doenças, que frequentemente causam danos ou competem com as plantações de eucalipto, são fundamentais para a manutenção da saúde e vitalidade da floresta. Nos últimos anos, vários problemas fitossanitários têm surgido em Portugal, como o gorgulho-do-eucalipto e o percevejo-do-bronzeamento, constituindo ameaças à produtividade florestal. A adoção de métodos de controlo de pragas baseia-se, assim, num sistema de monitorização que permite identificar e acompanhar a evolução dos danos por elas causados e assim determinar a viabilidade económica do controlo. Devem ser privilegiadas estratégias de proteção integradas, que compreendem os métodos de resistência ou tolerância genética, a luta biológica, a luta biotécnica e, como último recurso, a luta química dirigida. A luta biológica tem vindo a ser uma aposta do RAIZ, através da investigação de novos organismos com potencial de serem aplicados como agentes de controlo biológico.

Sobre os autores:
Ana Quintela – PhD, Investigadora e gestora de projetos de I&D em silvicultura e ambiente da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
Célia Fernandes - Investigadora em silvicultura e ambiente da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
Sérgio Fabres - Coordenador de I&D em Silvicultura da Direção de Investigação e Consultoria Florestal

RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel

Contacto:
ana.quintela@thenavigatorcompany.com
celia.fernandes@thenavigatorcompany.com
sergio.fabres@thenavigatorcompany.com

Como citar:
Quintela, A., Fernandes C., Fabres, S. (2019) Atividades para uma gestão silvícola em primeira rotação bem-sucedida.
RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel. Disponível em: www.e-globulus.pt.

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