- Seleção de varas
- Adubação de manutenção
- Controlo da vegetação espontânea
- Monitorização da ocorrência de doenças e ataque de pragas
Sabia que depois do primeiro corte as toiças (cepos) de eucalipto, particularmente de E. globulus, apresentam a capacidade de emissão de novos rebentos permitindo a condução do povoamento em regime de talhadia?
Depois do corte, as toiças (cepos) de eucalipto apresentam a capacidade de emissão de novos rebentos, permitindo a condução do povoamento em regime de talhadia mediante uma adequada seleção de varas e realização de outras práticas silvícolas como adubação e controlo da vegetação espontânea. A designação talhadia, assim, abrange a condução de povoamentos em segunda, terceira ou quarta rotação.
Para a tomada de decisão entre as opções de reconversão (nova plantação) ou condução do povoamento em regime de talhadia, após o corte de uma plantação de eucalipto, é necessário avaliar e comparar a viabilidade económica entre estas duas opções, que envolvem o conhecimento da produtividade esperada e os custos associados a cada opção de gestão.
1. Seleção de varas
Prática silvícola que abrange o estabelecimento do número de fustes adequado por hectare, a idade e a época de seleção de varas, o controlo da rebentação lateral e os métodos de desbaste. É um dos fatores mais determinantes da produtividade florestal no regime de talhadia. Após o corte das árvores, os cepos de eucalipto remanescentes no terreno têm capacidade de emitir rebentos ou varas cujo número terá de ser controlado com vista à sustentabilidade do ecossistema de produção florestal.
Deixar uma vara por cepo, quando não houver falhas em toiças contíguas quer ao longo da linha ou lateralmente nas linhas adjacentes. Quando houver falhas ou ainda quando os cepos se situarem nas bordaduras do povoamento, devem deixar‐se 2 a 3 varas por cepo, desejavelmente em posição diametralmente oposta, desde que as varas estejam bem desenvolvidas e o diâmetro do cepo seja superior a 20 cm, de modo a compensar falhas existentes ou toiças dominadas. Considera-se efetuar a primeira seleção de varas geralmente até os 2 anos após o corte do povoamento, e uma segunda seleção de varas para controlo da rebentação lateral cerca de 2 anos após a primeira seleção. Deverá procurar-se sinergia entre esta atividade e a adubação de manutenção.
2. Adubação de manutenção
A adubação é uma prática silvícola simples e eficaz, que consiste na aplicação de fertilizantes minerais e/ou orgânicos que contêm nutrientes essenciais para as plantas, e que o solo muitas vezes não possui em quantidades suficientes para o seu crescimento e produção ótimos. A adubação permite assim corrigir a fertilidade do solo para que as plantas possam dele retirar os nutrientes necessários para o seu ciclo de vida. A fertilidade do solo pode ser conceituada como a capacidade de o solo fornecer nutrientes para as plantas. Assim, para uma correta recomendação de adubação, é necessário conhecer previamente a fertilidade do solo mediante a análise química de amostras do solo por zona homogénea da propriedade.
Adubação de talhadia
Aplicação de um fertilizante NPK, em redor das toiças ou ao longo das linhas de toiças, após a operação de seleção de varas. Esta prática normalmente é realizada entre dois e cinco anos de idade do eucaliptal, podendo ser parcelada em dois ou mais momentos.
3. Controlo da vegetação espontânea
A vegetação espontânea, sendo um indicador importante da biodiversidade, exerce um papel fundamental para o equilíbrio ecológico do ecossistema, contribuindo neste sentido para a saúde e vitalidade do povoamento, uma vez que poderá neutralizar ou minimizar potenciais danos causados por pragas e doenças. Num qualquer ecossistema (natural, semi-natural ou antropomorfizado), a diversidade biológica é função não só do número de espécies presentes (riqueza específica), mas também do modo como os indivíduos se distribuem por essas espécies (equitabilidade), constituindo uma medida da estabilidade e riqueza relativa da comunidade biótica presente na propriedade ou numa dada unidade de gestão. No entanto, na fase inicial de crescimento, a vegetação espontânea concorre com as plantas de eucalipto em água, luz e nutrientes, podendo comprometer o sucesso da plantação. Assim, para além do controlo da vegetação espontânea na fase inicial de preparação do terreno, serão necessárias durante o ciclo de crescimento do eucalipto pelo menos uma ou duas intervenções de controlo da vegetação, recorrendo a meios manuais, mecânicos ou químicos. Exemplos de vegetação espontânea mais comuns:
Matos herbáceos
Cobertura da área com espécies herbáceas, como exemplo gramíneas e fetos, que se desenvolvem de forma espontânea no povoamento.
Matos arbustivos e arbóreos
Cobertura da área com espécies arbustivas e arbóreas, como exemplo urzes, silvas, giestas, tojos, estevas, carrascais, que se desenvolvem de forma espontânea no povoamento.
Plantas invasoras (ex.: acácias)
Cobertura da área com acácias (plantas invasoras) que se desenvolve de forma espontânea no povoamento e pode ocupar o território de uma forma excessiva.
4. Monitorização da ocorrência de doenças e ataque de pragas
Para promover um bom estado fitossanitário da floresta e assim assegurar uma taxa de crescimento compatível com o potencial do site, é necessário monitorizar a ocorrência de pragas e doenças. Caso detetadas, deve-se procurar ajuda especializada para promover-se a adoção de medidas de controlo adequadas. A monitorização de riscos bióticos das plantações florestais e métodos de controlo integrado de pragas e doenças, que frequentemente causam danos ou competem com as plantações de eucalipto, são fundamentais para a manutenção da saúde e vitalidade da floresta. Nos últimos anos, vários problemas fitossanitários têm surgido em Portugal, como o gorgulho-do-eucalipto e o percevejo-do-bronzeamento, constituindo ameaças à produtividade florestal. A adoção de métodos de controlo de pragas baseia-se, assim, num sistema de monitorização que permite identificar e acompanhar a evolução dos danos por elas causados e assim determinar a viabilidade económica do controlo. Devem ser privilegiadas estratégias de proteção integradas, que compreendem os métodos de resistência ou tolerância genética, a luta biológica, a luta biotécnica e, como último recurso, a luta química dirigida. A luta biológica tem vindo a ser uma aposta do RAIZ, através da investigação de novos organismos com potencial de serem aplicados como agentes de controlo biológico.
Sobre os autores:
Ana Quintela – PhD, Investigadora e gestora de projetos de I&D em silvicultura e ambiente da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
Célia Fernandes - Investigadora em silvicultura e ambiente da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
Sérgio Fabres - Coordenador de I&D em Silvicultura da Direção de Investigação e Consultoria Florestal
RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel
Contacto:
ana.quintela@thenavigatorcompany.com
celia.fernandes@thenavigatorcompany.com
sergio.fabres@thenavigatorcompany.com
Como citar:
Quintela, A., Fernandes C., Fabres, S. (2019) Atividades para uma gestão silvícola em talhadia bem-sucedida
RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel. Disponível em: www.e-globulus.pt.