Sabia que Portugal é um dos poucos locais do mundo que reúne as condições de clima e de solo necessárias à adaptação e produtividade da espécie Eucalyptus globulus?
A produção sustentável de madeira de eucalipto em Portugal é um dos fatores de sucesso imprescindíveis para a competitividade da indústria nacional de pasta e papel, uma vez que a madeira tem um peso significativo no processo de produção da pasta e na sua qualidade final. O género Eucalyptus no seu habitat natural, na Austrália e ilhas de latitudes próximas, compreende mais de 700 espécies de plantas naquela região do planeta, sendo que cerca de duas dezenas delas são cultivadas em várias regiões do mundo para produção de madeira e biomassa para os mais diversos fins, como por exemplo na indústria da construção civil, na indústria de móveis como produtos sólidos de madeira, na indústria siderúrgica para produção de aço em que o carvão vegetal é utilizado como agente redutor do minério de ferro, na geração de calor e energia elétrica a partir da combustão em caldeiras de biomassa, na produção de pasta e papel pela extração da celulose da madeira entre outros fins.
Eucalyptus globulus, pela sua vantagem comparativa em termos de adaptabilidade ao território nacional, elevada taxa de crescimento e qualidade da sua madeira é a espécie de eucalipto mais plantada em Portugal.
De acordo com registos históricos, as primeiras sementes de E. globulus e de outras espécies de eucalipto teriam chegado a Portugal por volta de 1820 a 1830. Em 1850 já era frequente o uso do eucalipto como planta ornamental, sobretudo em Lisboa e na região Sul do país. A partir de finais do século XIX, já havia plantações de diferentes espécies de eucalipto visando a produção de madeira para diferentes fins. No final do século XX regista-se a existência de cerca de 120 espécies de eucalipto em Portugal. Todavia, a expansão da área florestada com eucalipto ocorreu sobretudo entre os anos 60 e 90, algumas vezes sem obedecer a critérios ecológicos que permitissem estratificar o território em regiões de aptidão florestal sem o devido ordenamento do território. Atualmente o país dispõe de mais de 800 mil hectares plantados, sendo cerca de 90% desta área ocupada com E. globulus. As plantações de eucalipto do grupo The Navigator Company começaram a ser constituídas pela então Portucel em 1965, como resultado das campanhas de fomento iniciadas pela indústria nacional. Já a Soporcel iniciou a sua atividade de florestação em 1983, tendo a partir daí começado também a exploração florestal de áreas de eucalipto adquiridas a terceiros.
Naquela época sabia-se da adaptabilidade genérica de E. globulus ao país, mas não se tinha conhecimento detalhado do potencial adaptativo da espécie às variadas condições edafoclimáticas observadas ao nível regional, levando à aquisição de propriedades nas mais distintas zonas.
Uma plantação florestal com fins industriais tem de seguir um conjunto de regras de gestão que consideram simultaneamente aspetos económicos, sociais, técnicos, operacionais e ambientais, otimizando assim o uso dos espaços florestais e acrescentando valor para a sociedade como um todo. Todos esses aspetos devem estar claramente identificados no projeto florestal, peça-chave e integradora do planeamento das atividades que serão executadas no terreno aquando da sua implementação efetiva.
Em Portugal, um povoamento de eucalipto pode ser gerido em alto-fuste, primeiro ciclo de crescimento de 10 a 12 anos após instalação das pequenas plantas no terreno, ou em talhadia, ciclos de crescimento após o primeiro corte, resultante da capacidade de algumas espécies de Eucalyptus, em especial o E. globulus, de rebentação de toiça após o corte. A diversidade e especificidade das condições ecológicas das regiões mediterrâneas requerem atenção especial nas práticas de preparação do terreno, mobilização do solo, adubação, controlo da vegetação espontânea e exploração florestal no sentido de conciliar a produção florestal com a manutenção ou melhoria da qualidade do solo e restantes funções ecológicas dos ecossistemas. Em termos estritamente silviculturais, pode dizer-se que para melhorar os índices de produtividade atual da floresta de eucalipto em Portugal, e para uma produção sustentável de madeira no longo prazo, há atividades silvícolas específicas e adaptadas à fase de desenvolvimento do povoamento que devem ser consideradas. Saiba quais em:
- Atividades para uma gestão silvícola em primeira rotação bem-sucedida;
- Atividades para uma gestão silvícola em talhadia bem-sucedida.
Sobre o autor:
Coordenador de I&D em Silvicultura da Direção de Investigação e Consultoria Florestal,
RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel
Contactos: sergio.fabres@thenavigatorcompany.com
Como citar:
Fabres, S. (2021) Floresta de produção em Portugal. Disponível em: www.e-globulus.pt